O fim do verão pode trazer uma certa melancolia no hemisfério Norte. O período embaixo do sol, o calor gostoso, as roupas leves, parece tomar pouquíssimo tempo do nosso calendário. Agora, os dias estão um pouco mais curtos, o ventinho frio nos obriga a nos agasalhar um pouco, as flores vão sendo substituídas pelas folhas secas e sementes que caem e cobrem o chão. As árvores se tingem de dourados, vermelhos, marrons brilhantes. De pouco em pouco, o verão finda, e o Equinócio de Outono marca esse período de transição. A extroversão e abundância do calor agora se tornam ar seco e busca de abrigo.
A Deusa Interior, esse arquétipo poderoso que na Primavera e Verão trouxe a vida, a abundância e a alegria, agora se afasta do campo solar, caminhando em recolhimento, resfriando a Terra, escurecendo as cores por onde pisa, trocando sua pele, descascando, substituindo camadas. Ela agora se distancia da celebração do pulsar da vida. Muda sua trajetória, caminhando aos poucos em direção à sua caverna avernal.
Nada pode ser a mesma coisa para sempre. Absolutamente tudo muda.
É possível que esse findar gere uma insegurança, uma resistência à mudança. Não fomos ensinadas a deixar morrer aquilo que tem de morrer. Não nos foi ensinada a arte de viver o processo da morte. No entanto, a Natureza não se lamenta quando as cascas e folhas caem. As árvores não choram quando seus frutos apodrecem… afinal eles se abrem e soltam as sementes de dentro de si. A Natureza sabe que esse é o início da introspecção e possibilidade de mudança. As flores e os frutos tiveram seu tempo e o que foi florescido, amadurecido e colhido deve ser o suficiente para passar o tempo frio e infértil - somente na superfície, pois por debaixo das folhas secas, há muita vida acontecendo. Amadurecimento. Outono.
Uma das faces da Deusa Interior que nos chama agora é o da Ceifadora, que sabe que nesse momento é necessário iniciar o movimento de cortes, de mortes, de transformação. Aquela que nos diz que nosso apego precisa findar para que sejamos merecedoras desse novo movimento. Chamamos-na La Que Sabe. Ela sabe o que nosso caminho nos reserva.
A serpente é símbolo da Deusa, representante divida da Mulher no mundo - a troca de pele e a capacidade de transformação cíclica são algumas das razões. Para nós, significa que Outono é tempo de descamar-se. Mudanças exigem renúncias, desapego, deixar as camadas de enrijecimento caírem. Sermos serpentes, deixando as escamas secas que não nos servem mais para trás.
O Outono é imensa representação externa do que se reflete internamente: seguir, mudar, ceifar, transformar, crescer. A Deusa nos possibilita esse movimento, caminhando entre as folhas secas e observando, atentamente, o que precisamos deixar ir embora neste momento.
O que você deve deixar para trás? Qual apego precisa morrer dentro de você?
Bem vindo, belo e dourado Outono. Que nossas almas possam fazer o movimento que a Deusa pede de nós nesta estação: descamar-se.