Aqui no hemisfério norte, estamos comemorando junto com a Páscoa a chegada do Equinócio da Primavera. E essa data teve um significado muito diferente e importante para mim esse ano: além de ser a minha primeira vez vivenciando a mudança marcante que a estação tem aqui nas Terras do Norte, a minha Deusa Madrinha do Ano (aquela que rege minha vida em 2018 de acordo com o Oráculo das Deusas) é a Deusa Primaveril Eostre, uma Donzela Sagrada que trás de volta a vida após o inverno de acordo com algumas lendas pagãs.

E mais do que isso: o parto da minha filha começou durante uma neve intensa que caiu sobre Berlim exatamente na virada do Equinócio, do ano zodiacal e da lua crescente. São muitos, muitos símbolos profundos.

Durante o parto, que durou muito tempo e foi bastante difícil, precisei da força das minhas ancestrais e liguei para minha avó materna no Brasil. Ela me pediu coragem e me lembrou da Deusa Perséfone ascendendo do Mundo Avernal, exatamente a imagem do encontro Sagrado entre a Mãe Deméter e a Filha (e Rainha) Perséfone. Conforme ela vem subindo, suas roupas escuras vão se clareando, seus cabelos negros vão sendo enfeitados por coroas de flores e a atmosfera ao seu redor, antes gelada e pesada, vai se tornando refrescante e leve. Cada passo dado faz com que vão surgindo gramíneas e flores aos seus pés, despertando os pequenos animais e pássaros de dentro de seus esconderijos, avisando que o dia está nascendo, a neve está derretendo e dispersando, e que agora a vida ressurge de cada cantinho… É seguro sair de novo! Agora a vida brota, abrindo a Terra e rompendo os limites, com cada passo que Perséfone dá, indo ao encontro de sua Mãe. Tudo o que contém as sementes pode florescer: toda a fertilidade, riqueza, potência e realização da vida e da criatividade. Depois de tanto tempo embaixo do cobertor da neve e do frio, as criaturas podem se abrir, dançar e ir ao encontro do Sol.

E assim minha filha também foi vindo, aos poucos, da escuridão do meu útero. Fomos realizando juntas o trabalho árduo que é nascer, ela vindo ao meu encontro para trazer o Sol e a Dança para nossas vidas. E que explosão foi sentir sua chegada! Com muita dor mas também um alívio profundo, como a semente que finalmente se abre para o calor. Que amor, que profundo, que celebração! Chegou Alice!

Com a chegada da Divina Primavera chega também a Divina Menina no interior das mulheres. E assim é: agora os corpos relaxam, se alimentam de forma leve, se vestem com roupas coloridas, se preparam para vivenciar esse momento arquetípico da Donzela Sagrada. A Natureza é inteira celebração! Esse é o momento do novo, da aventura da heroína, de criar, de dançar, sair, renovar.

É Perséfone que carrega as boas novas e nos chama para agir, para realizar! Ela nos chama para colocar nossas mentes, nossos ventres, nossas vidas e nossas histórias em movimento. É o momento de abrir a mente para nossas possibilidades. É hora de ver além, de rir, de divertir-se, de ser Criança novamente. Começo.

Tudo o que ficou sendo guardado dentro da nossa caverna psíquica interior durante o Inverno, sendo regido por nossa Bruxa Anciã Interna, agora pode sair da zona de conforto e ser liberado na forma da nossa Donzela, Menina, Criança embaixo do Sol.

Que ela nos leve de volta ao começo ou ao final de um ciclo, que ela abra nossos caminhos e que possamos, com essa Energia Primaveril, curtir e realizar nossos sonhos. Sonhos que são como sementes: podem brotar e vicejar agora. Criar, dançar, pintar, celebrar.

Seja bem-vinda mais uma vez, Perséfone, Primavera amada!
Seja bem vinda, minha filha Alice!